Na sequência do Despacho n.o 11125/2010 "A Resolução da Assembleia da República n.o 3/2009, de 5 de Fevereiro, recomendou ao Governo a elaboração de um plano nacional de promoção da bicicleta e outros modos de transporte suaves, ..."
Alguns extractos:
"O Diagnóstico efetuado, na fase de elaboração do Plano, situa os principais benefícios do uso dos modos uaves, designadamente a bicicleta, nas seguintes vertentes:
- Maior eficiência do sistema de transportes ‐ a bicicleta constitui o modo de deslocação mais rápido,
eficiente e ajustado a deslocações em meio urbano, (onde metade dos trajetos têm distâncias a
percorrer inferiores a 3 Km) e oferece maior maleabilidade nos percursos urbanos, p.e., em trajetos
congestionados, acresce o menor espaço utilizado, o baixo custo de aquisição e manutenção de
infraestruturas necessárias, a par dos menores índices de ruído;
- Ganhos ambientais e energéticos ‐ redução de emissões de gases com efeito de estufa, de emissão
de partículas, de ruído ambiente, de consumo de energia, de congestionamento do tráfego; e
melhoria da qualidade do ar e do ambiente urbano, com impacte no bem‐estar físico, social e
mental dos cidadãos;
- Melhoria da Saúde ‐ atenuação dos níveis de sedentarismo ao longo de todo o ciclo de vida (quarto
maior fator de risco de mortalidade global), através de: promoção de estilos de vida saudáveis;
redução dos problemas respiratórios por via da diminuição da poluição atmosférica; redução do
risco de doenças cardiovasculares, doenças oncológicas e osteoarticulares, com benefícios
evidentes na melhoria da saúde física e mental e impacto positivo na diminuição da incapacidade e
no aumento do bem‐estar;
- Vantagens económicas ‐ redução do tráfego rodoviário congestionado; redução do consumo e
dependência energética; diminuição das despesas de saúde associadas à obesidade; ganhos no
orçamento disponível das famílias, derivados de menores custos diretos e indiretos associados ao
automóvel."
"O modo de transporte, em termos absolutos, mais poluente é o modo rodoviário,
seguindo‐se o modo aéreo, o marítimo e, por último, o ferroviário. Em Portugal, em
2009, o modo rodoviário foi responsável por cerca de 96% das emissões de gases com
efeito de estufa (GEE) do sector dos transportes. "
"Os vários meios de transporte têm diferentes eficiências energéticas. Considerando um
mesmo consumo (1 MJ), as distâncias percorridas são diferentes. O meio com maior
eficiência energética é a bicicleta, dado que com 1 MJ um passageiro pode percorrer
cerca de 17 km. Com a mesma energia, uma deslocação a pé pode atingir mais de 6km e
em transportes coletivos é possível, em média, percorrer uma distância de 2 km. "
"Atendendo a que, tipicamente, cerca de 50% dos trajetos urbanos têm menos de 3
km23, é possível concluir que os modos suaves podem representar uma alternativa real
aos modos motorizados em muitas deslocações. "
"Entre as principais vantagens, destacam‐se:
- Grande eficiência da bicicleta em viagens de pequena distância (mais competitiva até 4km e mesmo para distâncias maiores em caso de congestionamento). Em meio urbano a bicicleta consegue ser um dos modos de deslocação mais rápido, eficiente e ajustado às distâncias a percorrer, tendo em conta que 50% dos trajetos efectuados em meio urbano têm menos de 3km;
- Grande flexibilidade – maior maleabilidade em percursos urbanos curtos do que o automóvel, em particular em percursos curtos e de múltiplas paragens, com destaque para trajetos congestionados;
- Pouco espaço utilizado – com benefícios ao nível da utilização do espaço urbano, relativamente ao automóvel – podem estacionar‐se 10 bicicletas no espaço de estacionamento de um carro;
- Baixo custo – aquisição, infraestruturas, manutenção, etc.;
- Menor ruído. "
"Os benefícios da atividade física ao nível da saúde podem, de acordo com as
«Orientações da União Europeia para a Atividade Física» (IDP, 2009), ser:
- Redução do risco de doença cardiovascular (redução estimada em 50% pela OMS);
- Prevenção e/ou atraso no desenvolvimento de hipertensão arterial, e maior controlo da tensão arterial em indivíduos que sofrem de tensão arterial elevada (redução estimada do risco em 30% pela OMS);
- Bom funcionamento cardiopulmonar;
- Controlo das funções metabólicas e baixa incidência da diabetes tipo 2;
- Maior consumo de gorduras, o que pode ajudar a controlar o peso e diminuir o risco de obesidade (redução estimada pela OMS em 30%);
- Diminuição do risco de incidência de alguns tipos de cancro, nomeadamente dos cancros da mama, da próstata e do cólon;
- Maior mineralização dos ossos em idades jovens, contribuindo para a prevenção da osteoporose e de fraturas em idades mais avançadas;
- Melhor digestão e regulação do trânsito intestinal;
- Manutenção e melhoria da força e da resistência musculares, o que resulta numa melhoria da capacidade funcional para levar a cabo as atividades do dia-a-dia;
- Manutenção das funções motoras, incluindo a força e o equilíbrio;
- Manutenção das funções cognitivas, e diminuição do risco de depressão e demência;
- Diminuição dos níveis de stress e melhoria da qualidade do sono;
- Melhoria da autoimagem e da autoestima, e aumento do entusiasmo e otimismo;
- Diminuição do absentismo laboral (baixas por doença);
- Em adultos de idade mais avançada, menos risco de queda e prevenção, ou retardamento de doenças crónicas associadas ao envelhecimento."
"A bicicleta não requer muita aprendizagem ou ensino especializado, podendo a sua utilização ser acessível a camadas da população com menor formação ou menos competências, como as que não podem conduzir, com destaque para as camadas mais jovens da população.
O modo pedonal é, por sua vez, a mais importante e universal forma de deslocação – afinal, todos somos peões. "
"Relativamente às infraestruturas e redes existentes, são diversos os obstáculos
colocados:
- Inexistência de redes de percursos pedonais e cicláveis, com planeamento e desenho adequados, entre os diversos polos geradores e atratores (polos de habitação, de emprego, equipamentos ou interfaces de transporte), correspondendo assim às linhas de desejo das deslocações, quer ao nível dos próprios percursos como dos locais de estacionamento e/ou estadia;
- Inadequação do meio viário (perfis, equipamentos, materiais, etc.) às velocidades de circulação desejáveis para uma utilização segura das estradas ou arruamentos, nas áreas onde se pretende um uso partilhado, ou nas interseções daquelas com os percursos dos restantes utilizadores da via (ciclistas, peões, etc.);
- Falta de estacionamento para bicicletas adequado e seguro junto dos locais de trabalho, equipamentos públicos, comércio ou na residência;
- Falta de condições de apoio logístico para ciclistas nas empresas ou escolas (cacifo, duche, etc.). "
"Ao nível das características dos acidentes rodoviários com modos suaves, um estudo
recente da UE45 indica que:
- A proporção de mortos por acidente é superior nos peões (17%) e ciclistas (6%) em relação a outros modos. A maior percentagem de mortos ocorre entre as crianças com menos de 10 anos e adultos com mais de 65 anos, no caso dos peões, e entre as crianças e adolescentes dos 6 aos 14 anos, no caso da bicicleta;
- A maioria dos acidentes ocorre em áreas urbanas e dentro das localidades;
- 80% dos acidentes envolvem veículos ligeiros e pesados;
- Os acidentes entre peões e ciclistas ocorrem com maior frequência em atravessamentos pedonais, ciclovias e caminhos para bicicleta.
- Como fatores que determinaram estes acidentes identificaram‐se: velocidade dos veículos motorizados; peso e design dos veículos motorizados; falta de proteção e visibilidade de peões e ciclistas por parte dos veículos; consumo de álcool. "
"Sabe‐se hoje que, para a fraca utilização dos modos suaves em contexto escolar, contribuem fatores como:
- Falta de caminhos adequados e seguros para a escola, quer a pé, quer de bicicleta;
- Falta de estacionamentos seguros para a bicicleta dentro da escola;
- Elevado número de alunos não possui bicicleta, não sabe andar ou não tem material
- de segurança;
- Seguro escolar que exclui especificamente a utilização da bicicleta como meio de deslocação para a escola, bem como a deslocação em grupos organizados, de que é exemplo, o Pedibus, não estando os alunos e os professores que os utilizem abrangidos em caso de acidente; "
"Uma política relativa aos modos suaves deve aproveitar a realização de obras no espaço público (renovação/manutenção de vias urbanas, implementação ou renovação de infraestruturas técnicas)
para implementar condições favoráveis ao peão e à bicicleta. Deve também projetar condições futuras, em novos empreendimentos."
"A maior utilização das bicicletas está fortemente associada à possibilidade do seu estacionamento seguro. O risco de furto da bicicleta (mais presente quando há menos utilizadores) é um dos fatores apontados como desmotivador. No entanto em todas as cidades onde se têm implementado sistemas públicos de partilha de bicicleta (bikesharing), a percentagem de furtos é muito reduzida.
Devem ser previstos espaços de estacionamento nos locais de emprego, universidades, escolas, equipamentos, serviços, parques públicos e privados e em particular nas interfaces de transportes. De acordo com a avaliação das não, circunstâncias concretas esse estacionamento pode ou ser vigiado."
"Alguns países aplicam uma baixa taxa de IVA na compra de bicicletas e acessórios.
Em Itália, o Ministério do Ambiente afetou 9 milhões de euros para subsidiar a compra de bicicletas
com um desconto, até 30%.
Muitas cidades têm adotado sistemas de bikesharing isto é, serviços públicos de aluguer de bicicletas (gratuitos ou pagos). Estes serviços podem ser disponibilizados por empresas ou autoridades locais e estar associados a publicidade.
Deve criar-se um programa facilitador das várias vertentes referidas de formas de acesso à bicicleta."
"A opção pela bicicleta está ainda, em Portugal, associada à ideia de uma pessoa muito jovem ou “especial”. Alterar essa imagem consegue-se facilmente, se vários agentes públicos começarem a usar a bicicleta no seu trabalho diário, multiplicando a sua presença no espaço público."
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